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APRENDENDO A LIDAR

COM AS INCERTEZAS 

"Aprendendo a lidar com as incertezas" é o recorte expositivo de 13 artistas da Associação Catarinense dos Artistas Plásticos (ACAP) que, através da comissão de arte, propôs o tema com a intenção de provocar o  olhar e a subjetividade nos processos artísticos de seus associados, diante da instabilidade deste tempo. Tendo  como pano de fundo a pandemia do COVID-19 no período de quarentena, a

produção aconteceu de julho a agosto, e, na sua diversidade, reflete este lugar em suspensão, que atravessa e deixa rastros de

maneira diversa e singular,  expressão sensível deste tempo agora."

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No horizonte, uma fumaça, 

densa, escura, 

aumentando, aumentando.

O inesperado chega

causando medo, 

perplexidade, angústia, 

impotência.

Uma saga se instala.

E agora, como será?

Os abraços são interrompidos.

A morte ronda.

O que é justo?

Isolado, o mergulho

dentro de si.

Em tudo, o tempo de vida

é finito ou renovado.

Uma metamorfose circula

sempre, preparando

outras formas, 

suscitando vazios e avanços

A vida seria um eterno provável,

não fosse o vago.

O susto imobiliza

e ao mesmo tempo move

para os caminhos de empatia, 

da solidariedade, da compaixão.

Por ora, janelas

mantêm a sanidade,

incitando sonhos de voar, 

navegar livre por aí, 

em paz.

A linha e a cor

apoiam-se na arte

para imprimir

as incertezas vividas

e o sonho com o novo

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Poema de Angela Souza construído com base em enxertos

compilados por Maria Esmênia de textos de autoria dos

artistas participantes dessa exposição

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MARIA ESMÊNIA

Em um conjunto de seis trabalhos, é apresentada uma novela artística, visual e literária, que conta a saga de uma era da humanidade contra um ser invisível e minúsculo, que se denomina “O Inesperado”. Um ser que chega de um momento a outro aos milhões e ocupa todos os espaços da Terra. O fio condutor da saga é a força desse ser, capaz de promover enormes mudanças no mundo, causando medo, perplexidade, susto, vazios e avanços... Em seu estado metamórfico, foi capaz de paralisar o dia a dia da vida humana em seus diferentes momentos, O paradoxo das milhões de transformações repentinas nos leva a perguntar como será o mundo “do depois” da passagem desse ser; aliás, haverá “um depois” dessa passagem? Haverá passagem? Através das obras, é possível entender que o momento chegará quando o ser minúsculo e invisível completar sua transmutação. E nós, seres humanos, aplaudiremos e daremos vivas à vacina tão esperada! Vacina esta que nos libertará desta forma do inesperado, mas não das outras formas desse ser minúsculo e invisível. E então, como no livro A Metamorfose, de Kafka, sairemos para um passeio, na velha praça sob a antiga figueira, levando junto o cachorro de estimação. Decidiremos dedicar o dia ao descanso e ao lazer, afinal, não só merecemos essa folga, como precisamos dela. 

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1. O Inesperado I. Colagem com intervenção em papel cartão impresso sobre papel German Etching 310 g/m². 30 cm x 42 cm. 2020. 2. O Inesperado II. Gumprint sobre papel de seda impresso sobre papel German Etching 310 g/m². 42 cm x 30 cm. 2020. 3. O Inesperado III. Colagem e nanquim sobre papel couche impresso sobre papel German Etching 310 g/m². 42 cm x 30 cm. 2020. 4. O Inesperado IV. Colagem com intervenção em aquarela sobre papel cartão impresso sobre papel German Etching 310 g/m². 42 cm x 30 cm. 2020. 5. O Inesperado V. Acrílico e colagem sobre papel cartão impresso papel German Etching 310 g/m². 42 cm x 30 cm. 6. O Inesperado VI. Aquarela e colagem em papel Hahnemuhle Cèzanne 300 g/m² impresso sobre papel German Etching 310 g/m². 42 cm x 30 cm. 2020.

LUAH JASSI

Falemos aqui de tristezas e produção. Infelizmente o ano de 2020 marca pela dor, a terrível fase que ainda estamos vivendo, o que me obrigou a jogar sentimentos represados em meu trabalho de arte. Reflete tristeza, angústia, medo e impotência. A morte passou a rondar mentes e lares, nos tornando reféns, isolados e reflexivos. 1. Almejando prosseguir na batalha e caminhada contra qualquer proximidade do tão falado e assustador COVID-19, nasce na imaginação O Combate Final. Me armei de sentimentos positivos e como resultado deixo ao observador sua interpretação. Os personagens fazem parte do cotidiano da artista. "Um por todos e todos por um". 2. A angústia tornou-se uma constante, o medo da morte diário. A desinformação nos apavora, mas meu coração ainda pulsava. Salientando a todo momento o "grupo de risco" me confundia e isolava. A mídia insistia na ideia de que mais cedo ou mais tarde o vírus nos puniria. Fique em casa, era a sentença condenatória. O trabalho reflete a esperança na vida e fé. 3. "Aprendendo a lidar com as incertezas", após combate, a aproximação do vírus em família, trouxe apreensão. O fato de passado o susto e restabelecido o equilíbrio, fez nascer este trabalho. Expressa um vírus cansado e lambuzado pelas mortes, partindo de sua nefasta trajetória e nos libertando da dor.

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1. O combate final. Acrílica sobre tela. 80 cm x 90 cm. 2020. 2. Coração Pulsante. Acrílica sobre tela. 100 cm x 60 cm. 2020. 3. Visita Inesperada. Acrílica sobre tela. 105 cm x 100 cm. 2020.

DAVID RONCE

PANDEMIA na memória da linha, é um pequeno mosaico de dezesseis fragmentos de desenhos que foram executados durante a quarentena. Este processo se apoia na linha e na cor de forma abstrata para imprimir na superfície do papel as incertezas vividas nesse corpo/desenho alterado pelo medo, pela instabilidade emocional, física, social e diária destes trabalhos, restrito ao espaço doméstico. De fato, juntamente com a memória, o tempo é hoje um dos elementos mais importantes para se pensar a vida e a arte contemporânea. Tempo este que perfura o espaço, substituindo a sensação cronológica por uma circularidade plena de efervescência e instabilidade. É também um espaço de recriação e reorganização da existência com a cumplicidade e a intimidade de quem abre um diário. Nesse sentido, a memória é uma espécie de "Devir" histórico, um locus de experiências possíveis dentro de um horizonte de expectativas. Toda memória tem uma estética de identidade e variação igualmente plural e difuso. A ontologia da arte é assim, como afirma Heidegger, uma fundamentação do humano abstrato na obra, liberdade como ato de criação e a estética como ato de percepção, elementos este que me permite aproximar minha arte como elemento de memória deste tempo vivido.

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Pandemia na memória da linha. Desenhos em pastel oleoso, grafite e nanquim sobre papel aquarela Canson Montval 300mg. 12 cm x 12 cm. 2020.

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MEG TOMIO ROUSSENQ

Metamorfose, com a série de pequenas aquarelas, quer refletir a vida ambígua e inquietante, como um potencial para criação e invenção, com capacidade de impor uma nova ordem, uma nova forma de existir. Esta nova ordem me impôs pensar que o novo sempre envolve uma parte sombria e destrutiva, e que nosso corpo é um cemitério de um número infinito de outros seres. Enquanto houver vida, estaremos em presença de um poder colossal capaz de mudar a face do planeta. Pensar que a vida acaba com a morte do nosso corpo, é uma questão de fetichização do nosso ser, que acredita que cada um tem uma vida que nos pertence. A morte é a Metamorfose da própria vida que circula e se prepara permanentemente para tomar outras formas. Todos os seres ocupam a casa dos outros, somos a mesma carne, o mesmo sopro, os mesmos átomos da nossa mãe. Cada ser vivo tem por trás de si uma história milenar envolvendo outros seres vivos, os vírus se alimentam de pedaços de DNA.  Não somos um ser vivo só, ainda mais profundamente, múltiplos não humanos, a começar pelo vírus que ajudaram a dar forma ao organismo humano a sua estrutura.  O vírus é pura força de Metamorfose, circula de vida em vida sem se restringir as fronteiras dos corpos, livre e anárquico. Então a de se pensar que o futuro é a doença da identidade, o câncer do presente - que obriga a todos os seres vivos a se metamorfosearem.

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1. Corpos Meta Morfos I. Aquarela sobre papel cartonado com gesso. 21 cm x 21 cm. 2020. 2. Metamorfos a Flor da Pele. Aquarela sobre papel cartonado com gesso. 21 cm x 40 cm. 2020. 3. Tudo é Corpo Metamorfos. Aquarela sobre papel com gesso. 21 cm x 21 cm. 2020. 4. Corpos Meta Morfos II. Aquarela sobre papel cartonado com gesso. 24 cm x 17 cm. 2020. 5. Corpos Meta Morfos III. Aquarela sobre papel cartonado com gesso. 24 cm x 17 cm. 2020.

ÂNGELA MACKRODT

O GRITO mostra o que me deixou triste e com vontade de gritar "acordem!", nesse período de longos meses aprendendo a conviver com este inimigo invisível e agressivo, o novo Corona Vírus. Estar confinada em casa para preservar a minha saúde e a dos outros, me permitiu desenvolver este trabalho no qual ilustro o meu sentimento de dor pelo descaso com a natureza. Meu olhar parou quando ao lado de minha casa era iniciada uma nova construção num terreno em que havia árvores e que não iremos mais ver. Meus registros fotográficos destes e outros acontecimentos como no horizonte, uma fumaça densa e escura saindo de uma área de proteção ambiental aumentando e aumentando por horas, traz este jogo de imagens e recortes que insiro na paisagem local da bucólica Lagoa da Conceição. Estes outros registros, criam ao expectador uma paisagem que grita por socorro, A construção desse grande conjunto de apartamentos e de outras edificações cresce assustadoramente assim como a ganância do homem. Enquanto a humanidade está estressada e sem conseguir imaginar como será o futuro de nossas vidas, que estão cheias de incertezas, os grandes empresários estão preocupados em como poderão aumentar seus negócios. A saúde, que é relevante, é esquecida ou ainda, a adrenalina deles em querer faturar mais é tão alucinante que todo o resto deixa de existir. Extensas áreas de mata foram destruídas mais uma vez por um incêndio causado pelo desleixo do homem. E mais uma vez a destruição do verde nos trará danos substanciais para nossas vidas.

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O Grito, da série Os Agressores. Foto colagem em papel Hahnemuhle 300mg. 30 cm x 80 cm. 2020.

GELSYR RUIZ

Tanta coisa já foi dita. Pandemia é uma palavra que estava em desuso. Não lembro das janelas terem tanto sentido de liberdade e sonho como nos dias de hoje. Abrem-se as janelas nas casas, nos carros, nas folhas em branco, nas TV's, nos celulares e suas lives, nas câmeras, nas mentes aflitas e nas sonhadoras. Janelas dos olhos e janelas da Alma. Janelas que fitam horizontes longíquos, olhares voyeurs do imediato, num enclausuramento e numa fictícia liberdade virtual. Sonhos, prazeres e frustrações são jogados para fora e também capturados para dentro. De dentro para fora e de fora para dentro, insuportavelmente janelas. Elas nunca foram tão necessárias. São a conexão com o mundo louco da pandemia. Amo minhas janelas. Elas mantém minha sanidade.

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Janelas. Técnica mista sobre tela. 120 cm x 90 cm. 2020.

ESTELA RAMOS

Nesse momento de confinamento que estamos vivenciando, sinto que não preciso representar objetos e cenas da realidade concreta que externizam meus sentimentos e desejos para compor a realidade concreta. Sinto-me livre, com todo o tempo do mundo para me soltar e colocar nas telas minha necessidade de liberdade presente, cerceada pela pandemia, rompendo os últimos laços que me ligam entre o real e o imaginário. Sinto desejo de voar, navegar, andar pelos campos e mares vestida de liberdade, sem restrições e medos, preferindo a paz do que a razão e escolher a liberdade, já que ela não é um sonho, é um direito. 

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1. Sem título. 110 cm x 50 cm. 2020.2. Sem título. 40 cm x 40 cm. 2020.

ALBERTINA PRATES

No momento em que o mundo reverbera o medo da morte, meu foco é entender mais do que nunca o sentido da vida, e para entender o sentido da vida, é preciso entender a morte. A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e consequentemente pelo medo daquilo que não conhecemos. Muitos aspectos da vida moderna são projetados para tentar nos convencer que estamos completamente seguros, protegidos e no controle de tudo. O modo distinto com que as culturas lidam com a morte e o morrer, e as significações que ocorrem ao longo do tempo e do espaço, mostram o fascínio e o terror da humanidade onde o ser humano tem consciência de ser mortal, apesar de negá-la constantemente e estar convencido de sua imortalidade. Descobri sobre a existência do divino em cada um de nós, essa conexão pessoal de estarmos no universo e fazer parte dele... então como coisa rara, entender a vida é entender a naturalidade da morte... é como torcer o cérebro no espaço-tempo em todas as questões que nos faz únicos pois morremos todos os dias um pouco... Quando chegamos ao ponto de termos consciência de que não somos eternos e que não temos respostas para questões  da transitoriedade da existência, ouso dizer que seja possível bailar alegremente com nossas sombras. Falar sobre a transitoriedade da vida já é uma constante nos meus trabalhos... minhas imagens são meio irreais, provocando o imaginário aludindo a sonhos, ao mítico, aos arquétipos. Minha intenção é provocar emoção em névoas que se dissipam... A figura andrógena representa a finitude da vida. Em uma simulação de conluio, o beijo da ave sagrada dos Andes (o Condor, pássaro detritívoro) sugere a sintonia, a espera do momento único e sem volta em que todo ser vivente solitariamente e despojado de tudo, transpõe o umbral. Num bailado teatral em vórtice, suas vestes são fitas, os fios da vida das Moiras Tecelãs. Aqui, corpos, plumas, máscara e drama se apoiam na haste da gadanha e na tensão equilibrada de uma única e delicada pérola. 

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ROTUNDA. Desenho e pintura sobre tecido emborrachado. 2,70 m x 1,30 m. 2020.

ANGELA SOUZA

A partir de uma foto de minha autoria no Parque da Aclimação em São Paulo, me propus criar um clima de dúvida, de questionamento, de espanto, de incerteza: o que ocorreu? o que virá? Do chão, ora com trechos definidos, ora não, podemos perceber o passado sólido das árvores, Porém, em determinado momento de suas vidas, elas são tomadas pelo branco do papel, abrindo espaço à incerteza, à indefinição, ao medo, à renovação.

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A vida

seria

um eterno

provável, 

não fosse

o vago,

Nele, 

o receio, 

a insegurança, 

a pergunta:

- E agora,

como será?

Nele, também, 

a esperança, 

a resposta:

- Um novo

surgirá.

Sem título. Pastel oleoso sobre papel. 65 cm x 50 cm. 2017.

MARIETTE VAN SANDE

Lidar com as incertezas... díficil! Somos condicionados a pensar no futuro de forma organizada e programada. A verdade é que o futuro é sempre incerto, e mesmo assim somos invadidos por inúmeras emoções quando as surpresas se apresentam. E não faltaram surpresas em 2020!! Sensações de perplexidade, um vírus que nunca se viu igual em contagiosidade, medo, ansiedade, angustia, raiva, confusão, depressão, saudades.. Como sobreviver a doença e aos graves transtornos que a pandemia trouxe para a sociedade humana? Mas vimos florecer também a solidariedade, a compaixão, o amor ao próximo, a empatia, sentimentos que nos fazem seres melhores. Temos mais tempo para pensar, apreciar o por do sol, e conviver em família. Vamos nos adaptar, como inúmeras vezes ocorreu no passado, teremos mudanças positivas e outras não tanto, mas necessárias. E assim a humanidade segue o seu curso. A figura humana é protagonista nos três trabalhos que apresento, expressando  as emoções que observei, compartilhei e senti nestes tempos da pandemia. Presto homenagem aos profissionais de saúde que arriscam a sua vida para salvar outras, com coragem, responsabilidade, empatia e amor ao próximo. Neste trabalho coloco também referências históricas de pandemias passadas. Com o uso das máscaras, os olhos e olhares se evidenciam na nossa comunicação, e observamos os sentimentos humanos com realce inusitado. No meu trabalho rostos com máscaras, de uma forma surrealista, completam os olhares.

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1. Tributo aos profissionais de saúde. Óleo sobre tela. 110 cm x 65 cm. 2020. 2. Emoções da pandemia. Aquarela sobre papel 300 g/m². 35,5 cm x 43,18 cm. 2020. 3. Olhares e máscaras. Óleo sobre tela. 50 cm x 40 cm. 2020.

JAIME BAIÃO

Pandemia … assim são os vários caminhos e processos confluindo e separando em um movimento harmonioso … como o entrar e sair, subir e descer, o claro e o escuro, o vermelho e o negro, o amarelo e o azul . E nas cores se alternando temos a nossa viagem ou a nossa prisão. É a noite, o medicamento, o respirador e é a morte… Estamos livres e presos a viajar parados e a entrar e sair de nós mesmos, como num respirador. Veio do oriente longínquo e colocou-me em isolamento ... e isolado, mergulhei em mim mesmo.

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Sem título. Acrílico sobre tela com finalização digital. 40 x 30. 2020.

JOSÉ CARLOS ROCHA

A tragédia que estamos vivenciando, ação de um inimigo invisível onipresente que tem espaços específicos de acolhimento nos corpos humanos e que transita mundialmente como um avatar desconhecendo fronteiras, raça, idade, clima e causando e gerando pânico, mortes, sofrimentos, tristezas, e incertezas, leva-me a refletir: Como posso enfrentar essa indeterminações? Como aprender a sobreviver com o isolamento e distanciamento social? O que posso aprender? Será a visibilidade da invisibilidade? Para onde vamos? Como podemos evitar a desfiguração do ser humano diante dessa perplexidade? Continuo questionando-me: Como? Ser mais solidário? Ser mais humano? Ser mais compreensivo com as dificuldades e limites do outro? Praticar mais alteridade? Exercer mais a resiliência? Colocar-se mais no lugar do outro? Ter mais sensibilidade, percepção e agradecimento da presença do outro? Agradecer mais a oportunidade de viver e ajudar a lutar com o mundo? Perguntas que me movem diante da realidade do momento da humanidade. Busco, nas respostas afirmativas desses questionamentos, construir caminhos e pontes como meio de enfrentar a trágica situação, contextualizada pela representação e apresentação dessa realidade configurada nas imagens apresentadas. Assim me sinto e vivo este momento diante da força transparente de um vírus, cuja força e ação nos assusta e nos imobiliza, mas ao mesmo tempo nos move para outros e novos caminhos reconfigurados para vencermos essa guerra e restituirmos nosso momento de socialidade.

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Estação I, II, III, IV, V e VI, da Série Invisibilidade da Visibilidade. Gumprint: tinta offset sobre papel aquarela 300 g/m². 20 cm x 30 cm. 2020.

MARILENE ORLEANS

A série de fotos que apresento é resultado de trabalhos que venho desenvolvendo há mais de 3 anos, desde que me mudei para uma nova residência. Tudo que me circunda neste novo ambiente, que tem uma sensação e característica de sítio, mas dentro da cidade, trazem à tona minha memória afetiva. Nasci e me criei nesta ilha e desde minha infância vivi rodeada de muito verde, plantas e animais. Desde março comecei a juntar pelo quintal de casa folhas, sementes, baraços e penas. Tudo foi juntado porque teve seu ciclo de vida finito ou renovado seja pela ação do vento, ciclone ou algum outro evento, ou seja, pela ação da natureza. Assim fluiu meu trabalho. Relembrar a frase do escritor Manoel de Barros "O meu quintal é maior que o mundo", me fez refletir que meu quintal não é maior que o mundo. Pois não é porque admiro e cuido do meu quintal que não tenho compromisso com tudo que está acontecendo pelo mundo. Venho questionando meus hábitos e ações e agora com a situação atual, fico pensando o que estamos fazendo com a terra que habitamos e recebemos. Os maus hábitos como o descarte não adequado do lixo, o consumo exagerado, falta de empatia e de atenção com nossos semelhantes. O preconceito com o que não nos convém, leva a crer que olhamos só para nosso umbigo, ou melhor, apenas para nosso quintal. Temos que rever nossos conceitos. É nosso dever deixar para a posterioridade um planeta e um mundo melhor. Se a natureza evolui, nós seres humanos temos que evoluir para o bem de todos. Estamos presenciando que o vírus não é seletivo; ele atinge pessoas de todas as camadas sociais, idade e etnias. Então, para vivermos melhor precisamos cuidar do meio ambiente para termos saúde e qualidade de vida e principalmente, viver em harmonia com a natureza e a humanidade.

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1. Umbuquê, Fotografias impressas em papel. 43 cm x 30 cm, 2020. 2. Finitude. Fotografias impressas em papel. 30 cm x 30 cm. 2020. 3. Folhas Sementes e Penas. Fotografias impressas em papel. 34 cm x 28 cm, 2020,

JEAN RODRIGUES

Para falar deste momento impar em que estamos vivendo, resolvi fazer uma leitura escultórica de alguns pontos que me afetaram em relação a este período. O trio de esculturas embora distintas se complementam quanto obra. Aspectos como o confinamento, o abraço interrompido, a afetividade quanto perigo e a significância sobre o que é justo em tudo isso, norteiam meus pensamentos. Nossa impotência em entender reais razões de tudo isso, formam o caráter das três peças, onde se pretende ser um ponto de vista e não uma resposta. 1. Na obra “abraço interrompido”, a figura de um homem em que com os braços abertos pede um abraço, uma aproximação, seu corpo esta envolto com arame farpado, como um vírus que percorre que distancia que machuca. 2. Já a obra “A feto” nos põe em posição fetal, em um espaço quadrado, que é uma representação de nosso quarto, nossa casa, nosso abrigo, nosso confinamento, que assim como para um ser no ventre, é refugio para que possamos nos proteger e então após uma espera sair para contemplar um mundo novo. 3. Na obra “Themis”, há a representação clássica da deusa da justiça, já em sua forma desgastada, não há balança, não há peso, uma justiça que sim, ela vê, mas aonde antes um pano servia de venda, agora serve de mascara, ou mordaça. Justiça que apesar de tão bela e tão desejada, sofre com o passar do tempo, seu olhar é triste e destemido. Sabe que o que machuca a razão, o que faz sofrer os injustiçados, são muitas vezes aqueles que deveriam honra-la e protege-la.

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1. Feto. Resina poliéster, pintura de arte, estrutura de metalon, 50 cm x 30 cm x 30 cm. 2020. 2. Abraço Interrompido. Resina Poliéster, pintura de arte, rolo de arame farpado envolto na escultura. 90 cm x 60 cm x 40 cm. 2020. 3. Themis. Resina poliéster com pintura de arte. 100 cm x 50 cm x 40 cm. 2020.

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